Após ter sido exibida em São Paulo, Belo Horizonte e Recife, a obra de Mac Adams continua em cartaz na CAIXA Cultural Rio de Janeiro até o dia 28 de fevereiro de 2020.
Confira alguns excertos da entrevista realizada por Luiz Gustavo Carvalho, curador da exposição Mens Rea: a cartografia do mistério, com o artista:
Luiz Gustavo Carvalho: As Tragédias Pós-Modernas, na sua maioria, foram realizadas nos anos 80, como uma resposta à política liberal que você testemunhava no Reino Unido e nos EUA sob Thatcher e Reagan, respectivamente. No entanto, em 2019 essas obras permanecem extremamente atuais. Como você as enxerga hoje, em um mundo submerso pela forma mais perversa de neoliberalismo?
Mac Adams: Infelizmente, muito pouco mudou social ou politicamente desde que eu fiz esses trabalhos. Os objetos refletivos eram meios utilizados para mostrar a disjunção entre os que têm e os que não têm. Eram artigos domésticos caros e sofisticados da década de 1980, objetos que simbolizavam a riqueza e mobilidade ascendentes, no entanto nos quais eram refletidas as tragédias sociais, interrogatórios violentos, abusos domésticos, estupros, crianças com armas, etc. Na verdade, alguém poderia argumentar que agora é muito pior. Eu não sou fotógrafo documental; no entanto, nos anos 80, queria deixar um testemunho sobre os eventos que eu via acontecer. Eles provaram ser prescientes e uma camada inesperada emergiu: as fake news.
LGC: Ao questionar a veracidade dos elementos que se movem entre a realidade e a ficção, você convida o espectador, de maneira brechtiana, a viver uma dupla experiência artística: ao desempenhar o papel de observadores externos de uma cena, também nos tornamos contadores da nossa própria história. Nesse contexto, poderíamos ver aqui um componente performático que permeia todo o seu trabalho?
MC: Esta é uma pergunta muito interessante. Sim, definitivamente existe essa referência brechtiana. Eu tento conscientizar você sobre essa dualidade de fatos e ficção. Construo essas instalações misteriosas de maneira que o espectador possa especular sobre suas próprias experiências, tornando-se um cúmplice ou testemunha, dependendo de como ele interpreta esses eventos. O público deve interpretar a narrativa ao contrário, como qualquer detetive, tornando-se parte da obra.
LGC: Observando você trabalhar nas “esculturas de sombras”, eu não consigo parar de pensar na Traição das imagens (La trahison des images), de Magritte, bem como na alegoria da caverna platônica. Durante todo o processo artístico há também uma distância muito próxima à meditação. Como surgiu o seu interesse pela existência paralela dos objetos?
MC: É interessante que você escolhe essa pintura de Magritte. Agora posso ver a razão, existe um elemento tautológico neles. Não me lembro de quem disse que toda arte é uma tautologia. Há algo incrivelmente ridículo e engraçado, apontando para a escultura abstrata de um coelho e dizendo que isso não é um coelho quando a sombra dela se assemelha a um coelho. Seria isso A traição das Imagensum passo adiante? Esses trabalhos em torno da sombra são frutos do meu estudo sobre budismo e a criação deles, e espero que a sua visualização também, é uma experiência meditativa.
Mens Rea: a cartografia do mistério
CAIXA Cultural Rio de Janeiro
Avenida Almirante Barroso, 25
Visitação: terça a domingo, de 10h às 21h
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